Chapeuzinho Vermelho
CHARLES PERRAULT
Ilustrado por LIMA
Pelo gorro que ela usava
"Chapeuzinho Vermelho" era chamada.
Com a mãe ela morava
numa casinha de branco caiada.
Visitando a avó, um dia
ela encontrou um lobo disfarçado.
Que susto, que correria!
É o que vai nesta estória contado.
Ao lado da estrada que ia para a vila, havia uma casinha muito bem cuidada. Todos que passavam admiravam a ordem e a limpeza do lugar: a casa estava sempre bem varrida, havia vasos de gerânios na janela, e um cheiro bom de comida gostosa saía pela chaminé. Naquela casinha, junto com a mãe, morava Chapeuzinho Vermelho, uma menina muito boazinha. Tinha esse nome porque usava sempre uma capinha vermelha com um capuz, que lhe ficavam muito bem, deixando-a ainda mais corada e viçosa. A avó de Chapeuzinho Vermelho, que morava sozinha do outro lado da vila, ficava muito contente quando a neta ia visitá-la. Chapezinho Vermelho gostava de brincar no jardim, ao redor da casa, onde havia sempre borboletas esvoaçando entre as flores e passarinhos cantando nos arbustos.
O gato também brincava com ela, mas, quando sentia cheiro de comida, ele entrava correndo e ficava rodeando a mãe de Chapeuzinho Vernelho, até ganhar algum bocado.
Um dia, a mãe de Chapeuzinho fez umas coisas gostosas e chamou a menina: — Filhinha, venha cá. Apronte-se para sair.
— Hum! Esse bolo deve estar uma delícia! Posso provar um perguntou Chapeuzinho Vermelho.
— Não minha filha, há outro para nós. Este eu fiz para sua avozinha, que está doente, de cama. Você vai até a casa dela, levar o bolo, estas rosquinhas e este pote de geléia — disse a mãe de Chapeuzinho, Vermelho, arrumando tudo numa cesta e cobrindo com um guardanapo.
Depois entregou a cesta à menina, dizendo:
— Tenha cuidado, minha filha. Não vá pelo caminho da floresta…
— Já sei. mamãe — interrompeu Chapeuzinho — O caminho da floresta é muito perigoso. É melhor ir pela estrada que atravessa o campo.
— Isso mesmo, minha filha. E não fale com estranhos!
— Já sei — disse a menina. — Nao devo falar com desconhecidos, principalmente com o lobo, porque ele é muito mau.
— E gosta de comer crianças!
— Nao me esquecerei — prometeu Chapeuzinho Vermelho.
Chapeuzinho Vermelho partiu contente: ia dar um belo passeio.
Havia borboletas pelo caminho, e às vezes algum coelhinho cruzava a estrada, correndo de um lado para outro.
Chapeuzinho Vermelho distraiu-se com as borboletas. Viu uma amarela, brilhante, e foi seguindo-a.
A borboleta pousou numa moita de margaridas-do-campo, tão lindas que a menina resolveu colher um buquê para levar à avó.
Havia muitas, cobrindo o chão como um tapete. Colhendo uma aqui, outra ali, Chapeuzinho foi entrando na floresta sem perceber.
Dona Coruja, acordando com aquela imensa folia
reclama — Que é iso!? Dançando! Não sabem que durmo de dia!?!
E o coelhinho diz: — Bom dia! Correm os bichos da floresta: tatu, veado, paca e cutia, recebendo a menina em festa.
— Chapeuzinho Vermelho, você não devia ir pela outra estrada? — perguntou a coruja.
— Eu? Sim… é que… estava colhendo flores para fazer um ramo para a vovozinha
A coruja tornou a falar:
— Cuidado, Chapeuzinho Vemelho! o Lobo Mau anda por aí. Se ele vê você sozinha na floresta…
A coruja nao tinha acabado de falar, e o lobo saiu de uma.
moita. Tinha o focinho tão grande, os olhos tão acesos os dentes tão agudos, que metia medo.
Assim que o viam, os coelhinhos e até as rãs e os sapos saíam correndo.
— Ora, vamos ver o que está acontecendo por aqui. Sinto cheiro de gente. Quem será? — rosnou ele.
O lobo aproximou-se um pouco mais para espiar.
— Ah, é uma menina! E se nao me engano, é Chapeuzinho Vermelho! — disse o lobo para si mesmo. — Vou chegar mais perto, bem devagar, para nao assustar a menina.
— Bom dia, Chapeuzinho, como vai? E o que leva nessa cesta? — perguntou o lobo, com a voz mais macia que pôde.
A coruja nao tinha acabado de falar, e o lobo saiu de uma.
moita. Tinha o focinho tão grande, os olhos tão acesos os dentes tão agudos, que metia medo.
Assim que o viam, os coelhinhos
e até as rãs e os sapos saíam correndo.
— Ora, vamos ver o que está acontecendo por aqui. Sinto cheiro de gente1. Quem será? — rosnou ele.
O lobo aproximou-se um pouco mais para espiar.
— Ah, é uma menina! E se nao me engano, é Chapeuzinho Vermelho! — disse o lobo para si mesmo. — Vou chegar mais perto, bem devagar, para nao assustar a menina.
— Bom dia, Chapeuzinho, como vai? E o que leva nessa cesta? — perguntou o lobo, com a voz mais macia que pôde.
— Vou à casa da vovozinha, levar-lhe um bolo, rosquinhas e geléia que a mamãe fez.
— E onde mora sua avozinha?
— A vovozinha mora perto do moinho, na última casa da vila. Mas por que você quer saber? — perguntou a menina.
— Bem… é que… Vamos fazer uma aposta? — disse o lobo, mudando de assunto.
— Que aposta? — perguntou a menina, desconfiada.
— Vamos ver quem chega lá primeiro? E sem esperar resposta, o lobo saiu correndo pela floresta.
Chapeuzinho Vermelho não imagina que o lobo tivesse um plano, que só mesmo um lobo muito mau poderia ter. Num instante o lobo tinha chegado à cada da avozinha, enquanto Chapeuzinbo Vermelho se demorava pelo caminho, colhendo flores e seguindo o vôo das borboletas.
— Preciso dar um jeito de entrar sem que a velha desconfie de nada. Vou bater à porta como se fosse Chapeuzinho Vermelho.
— Tóc, tóc, toc!
— Quem é? — perguntou a avozinha.
— Sou eu. Chapeuzinho Vermelho ! — respondeu o lobo, imitando a voz da menina.
— Que aconteceu com você Chapeuzinho? Porque está com a voz tao grossa ? — perguntou a boa velhinha
— E que… eu estou rouca! respondeu o lobo.
— Entre, querida, — disse a a avó. — A porta está aberta.
O lobo não esperou segundo convite. Entrou correndo e de um salto atirou-se sobre a pobre avozinha, e a engoliu inteira, sem mastigar. A velhinha nem teve tempo de perceber o que estava acontecendo.
Depois o lobo pôs na cabeça a touca da velhinha e enfiou-se debaixo das cobertas, fingindo que era a avó, e ficou esperando Chapeuzinho Vermelho.
Dali a pouco chegou a menina, com um belo ramo de flores. Bateu à porta alegremente, e entrou, dizendo:
— Olhe, vovó, que lindas flores colhi no caminho para lhe trazer !
— Oh, obrigada! Mas o que você tem aí na cesta? — perguntou o lobo.
— Que é isso, vovozinha? Você está com a voz tão grossa!
— Oh, não é nada! E porque
estou doente! — disse o lobo.
— Trouxe-lhe um bolo, rosquinhas e geléia, que a mamãe mandou — disse Chapeuzinho Vermelho.
— Sim, querida. Ponha tudo em cima da mesa e venha sentar aqui, perto de mim.
Quando Chapeuzinho Vermelho aproximou-se da cama, achou que a avó estava muito esquisita naquele dia.
— Vovó, como seus braços estão peludos hoje! E como sao compridos! — disse a menina, assustada.
— São para abraçar você — respondeu o lobo.
— E que orelhas enormes! — tornou a dizer a menina.
— São para ouvir tudo que você diz — respondeu o lobo.
— Mas que olhos tão grandes, vovó!
— São para ver como você é bonita! — disse o lobo.
— Mas, vovó, que dentes grandes e afiados você tem!
— São para comer você! — disse o lobo. E saltou da cama sobre a menina.
Mas o lobo, com a avó dentro da barriga, estava muito pesado. Não conseguiu dar o pulo de sempre, e enroscou as pernas na colcha da cama. Chapeuzinho teve tempo de fugir e esconder-se dentro do guarda-roupa. O lobo tentou abrir pelo lado de fora, mas nao conseguiu.
— Essa não! — resmungou ele. — Eu queria comer a menina de sobremesa!
O lobo sentou na frente do guarda-roupa para esperar a menina sair de lá. Mas logo sentiu sono e resolveu deitar na cama da avó para dormir.
O lobo, quando dormia, costumava roncar alto. Estava roncando, fazendo um barulhão, quando passou por ali um caçador. Curioso, o homem abriu a janela da casa para ver o que estava acontecendo lá dentro.
Desconfiado, não acredita:
— Essa não é a Vovozinha. Lobo de touca, laço e fita? É porque engoliu a velhinha!
Vou matá-lo com um tiro certo. Faço uma boa pontaria… E era uma vez um lobo esperto, que de maldade morria!
Com um tiro certeiro, o caçador matou o lobo.
— Há muito tempo eu queria fazer isto! — exclamou. — Finalmente, chegou o dia…
Quando o caçador entrou na casa, Chapéuzinho Vermelho saiu de guarda-roupa e contou o que tinha acontecido. Mais que depressa o caçador abriu a barriga do lobo com uma enorme tesoura. A avozinha pulou para fora, vivai Só estava um pouco sufocada:
— Que susto! — exclamou a velhinha. — Estou até com falta de ar.
Chapéuzinho Vermelho abraçou a avó, dizendo:
— Agora pode ficar sossegada, vovozinha, não há mais perigo.
As duas agradeceram ao caçador por ter salvo a avozinha a tempo. Depois o convidaram para comer, junto com elas, o bolo e, os doces que a mãe de Chapeuzinho Vermelho mandara.
Quando os moradores da vila souberam que o lobo tinha morrido, ficaram muito contentes.
Mas quem ficou mais feliz ainda, foram os coelhinhos, os cervos e todos os bichinhos da floresta.
E desse dia em diante, Chapeuzinho Vermelho pode correr atrás das borboletas e colher flores, sem medo do lobo.
Passado aquele perigo
foi realizada uma grande festa.
Todo mundo agora é amigo, já não existe lobo na floresta,
ele jaz, ali, no chão.
Mas Chapeuzinho aprendeu a lição.
FIM
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